Quando estudamos música, geralmente a estudamos dentro de um contexto histórico como parte da sua prática cultural e social.
Dentro do campo da pesquisa científica, uma pergunta fundamental é, como a música afeta o ouvinte e, três formas distintas foram propostas: 1) alcançar a autoconsciência; 2) expressar relacionamento social e 3) regular o humor e a excitação.
Um exemplo do efeito da música sobre o comportamento e o cérebro humano são os efeitos calmantes das canções de ninar, conhecidas e usadas em todas as culturas e épocas históricas. As canções de ninar para bebês criam vínculo e promove coesão do grupo social e evidências mostram que esse efeito pode ser encontrado em todas as culturas.
As características musicais das canções de ninar, têm mostrado ao longo dos séculos, aspectos multiculturais que promovem sensação de estar socialmente seguro, agindo como efeito calmante em bebês. Mesmo canções em idiomas estrangeiros promovem o mesmo efeito, sugerindo que os efeitos musicais envolvam um forte componente biológico – seu objetivo intencional é promover a mudança no estado fisiológico de quem a recebe, da vigília para o sono.
As canções de ninar funcionam tanto para bebês quanto para adultos. Graças a isso, o mercado da música está crescendo comercialmente, principalmente com a pandemia da COVID-19 em 2020, com músicas/sons para relaxamento, músicas para dormir ou músicas para sono profundo, música curativa etc.
Entretanto, do ponto de vista de pesquisa científica, perguntamos “que tipo de música pode de fato exercer efeitos sonogênicos?” Vários estudos já demostraram os efeitos terapêuticos da música em casos de distúrbios do sono e/ou a qualidade do sono, avaliado por questionários. Entretanto, para termos uma avaliação objetiva, precisamos usar exames de polissonogragia para testar os efeitos da música no cérebro. O sono é um estado fisiológico bem caracterizado e, mesmo mudanças sutis podem ser detectadas pela polissonografia. Os padrões no eletroencefalograma do sono podem ser usados como marcadores objetivos do processo de adormecer, além de um indicador objetivamente quantificável da profundidade do sono.
Os efeitos da música antes do sono e durante as fases de transição, assim como diferentes tipos de estimulação acústica são cada vez mais usados durante o sono, seja para aumentar a profundidade do sono ou as funções cognitivas do sono.
Alguns obstáculos são observados na escolha das canções de ninar mais adequadas: a abundância de canções de ninar no repertório de música clássica e o mercado contemporâneo que oferece uma enormidade de músicas calmantes. Como escolher a candidata ideal? A escolha geralmente é baseada em gostos pessoais, ou disponibilidade, ou porque conhece essa ou aquela, e não baseada em uma avaliação sistemática. Outro fator encontrado na escolha da canção ideal, são os custos dos exames de polissonografia em laboratórios do sono, como padrão-ouro em pesquisas, tornando-se cara e trabalhosa, restringindo o escopo de uma investigação mais sistemática.
Entretanto, com o avanço na tecnologia do sono e na ciência da computação, espera-se muito em breve superar essas limitações, utilizando-se outros dispositivos que possam ser usados em larga escala e a preços mais acessíveis, e desta forma obtermos uma amostra populacional considerável. Com esses dados resultantes, permitirá novas abordagens interdisciplinares para o estudo da música. As canções de ninar poderão ser testadas em grandes populações, com o uso de tecnologia de gravação do sono e, esses dados resultantes podem ser analisados com abordagens de aprendizado de máquina, para extrair características musicais sonogênicas mais eficazes.
Em geral, as canções de ninar podem ser consideradas um gênero musical ideal para elucidar as associações e diferenças entre os aspectos neurobiológicos e culturais da música.
Akkermann, M., Can Akkaya, U., Demirel, C., Pflüger, D., & Dresler, M. (2021). Sound sleep: Lullabies as a test case for the neurobiological effects of music. Behavioral and Brain Sciences, 44, E96.
Liliana Mores
Cirurgiã-Dentista CRO/SC15297
Odontologia na Medicina do Sono
Odontologia para Músicos
DTM e Dor Orofacial
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